quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Fogo Amigo, não!

Por que muitos seguidores, apesar de bem intencionados, mais atrapalham do que ajudam?
O que o Novo Testamento indica sobre os seguidores que se tornam muito próximos de notórios missionários do bem?
O que os motiva a seguir seus líderes religiosos, às vezes, de modo tão fanatizado?
Você conhece alguém assim tão identificado com um líder? Acha que pode compreendê-lo, vendo-o na ânsia de ocupar esse lugar tão incoveniente?

Leia este comentário, que, de propósito, inicia-se com uma frase muito propícia ao tema, e que foi retirada de uma Epístola de Paulo.

Segundo Emmanuel (Livro: Vinha de Luz, FEB, 95), quando o famoso Apóstolo dos Gentios, Paulo de Tarso, assinalou em sua Epístola: "vindo ele a Roma, com muito cuidado, me procurou e me achou" (II Timóteo,1:17) revelou-nos um detalhe diferenciado do discípulo que o procurou. Este, pelo visto, não era um discípulo de Paulo que fosse identificado demais com ele e sua posição, embora o amasse muito. Naquela época, uma viagem através do chamado "mundo romano" era difícil e perigosa. Só mesmo o amor à causa do Cristianismo nascente poderia movimentar os homens levando e trazendo Epístolas fundamentais para o desenvolvimento das igrejas.

Há, nos dias de hoje, outros tipos de procuras. Aqueles que estão quase sempre perscrutando sinais das pegadas dos homens de bem que se projetam na mídia. Agem nas proximidades, com tanta desatenção, que acabam atrapalhando a vida desses missionários, como se já não bastasse o grande cuidado que a existência exige dos líderes contemporâneos.

No caso bíblico, ao contrário, aquele discípulo que procurou por Paulo em Roma, era Onesífero que acabou por achá-lo em meio às conturbadas expressões da vida cotidiana de Roma. Interessante assinalar que não seria difícil achar o Apóstolo, uma vez que ele estava em prisão romana.
Notemos que a observação assinalada pelo Apóstolo não se restringiu a um mero encontro de um endereço na capital do Império romano. É que, na interpretação do trecho da Epístola, a palavra encontrar, ganhou conotação muito mais preciosa do que a do simples chegar a um determinado lugar, depois de uma longa viagem.

Há quem chegue à intimidade de um templo sem encontrar-se no âmbito do cuidado espiritual. E há quem, embora nunca tenha chegado a uma porta de uma casa religiosa,encontre a sua própria religiosidade.
Falamos, então, do cuidado espiritual, esta condição de possibilidade do bem que pode ser feito ao próximo.

Os seguidores sempre dizem que querem todo o bem dos seus líderes, missionários da luz. E parece mesmo que não têm um objetivo escuso ao se aproximarem deles. Mas,quem vai sempre ao encontro de um lider espirititual, precisa meditar quanto ao que realmente o está motivando, para aproximar-se tanto. Será bom que não seja por necessidade de vassalagem, nem pelos imperativos da dependência afetiva ou financeira, nem para o doentio vampirismo, nem para simplesmente aparecer, pois, para o missionário do bem, conviver com ‘amigos’ assim, tão problemáticos, é o mesmo que mantê-lo numa guerra, debaixo do perigoso “fogo amigo”.

Os líderes espirituais mais experientes, sabem diferenciar os amigos reais entre os que lhes estão mais próximos. Foi o caso do discípulo Onesífero: ele agiu com cuidado ao procurar Paulo e este fez questão de ressaltar, na citada Epístola, a significativa diferença proporcionada pela atitude equilibrada do discípulo.

Em geral, os que promovem o desagradável e perigoso ‘fogo-amigo', descuidam-se do cuidado e procuram se aproximar demais e o fazem ao modo ansioso, fixados demasiadamente em questões oportunistas ou pessoais, na idolatria. Em outros casos, querem atrair a atenção para si, presunçosos, como se respondessem em nome de, e, em alguns casos, julgam-se suficientemente preparados para substituir seus líderes.

E você, leitor?! Gosta de seguir os "gurus". É do tipo "amigo do famoso lider espiritual tal"? pergunte-se e responda sinceramente: por que deseja tanto se aproximar de um grande líder religioso da contemporaneidade? Se você tem sido assim, tome muito cuidado! Pense bem: tietagem atrapalha, assim como a bajulação incomoda. Certamente, você não quer se tornar uma pequena pedra ponteaguda no caminho do benfeitor encarnado que você ama ou admira. Você, certamente, não vai querer atrapalhar a jornada de alguém que está no mundo para servir no bem.
Então, pergunte-se: por que você precisa colar no líder? Está suficientemente preparado para enfrentar as trevas daqueles que descarregam suas baterias maldosas para atrapalhar a jornada do bem que o missionário realiza com tanto empenho na Terra? Os chamados lobistas não conseguem atuar diretamente contra os missinários do bem, mas é fácil imaginar sobre quem eles vão focar sua curiosidade mórbida e destruidora. Guardadas as devidas proporções são os que atuam próximos dos políticos que os fazem passar pelas duras provas de ver suas vidas especuladas, todos os dias.
Se ele for honesto, não terá o que temer - você poderá dizer do alto de sua insignificãncia. Porém, é a sua pele que os obsessores encarnados, lobystas, querem esfolar para agredir seu ídolo, porque voc~e se torna o elo mais fraco da correte.
Querem ajudar? Então, meu amigo e minha amiga, andem corretamente e aprendam a ser discretos. Respeitem o espaço de atuação do seu líder espiritual. E, antes de mais nada, não tentem ser a pessoa mais especial para ele, pois ele não precisa disso e , se pensar bem, nem você! Insistir na cola dos líderes religiosos é ridículo e fica muito ruim para você, permanecer assim na sombra ou na aba do outro. Isto em nada acrescenta de bom à jornada do bem que seu lider desempenha com tanto carinho e apreço.

Emmanuel diz: "imprescindível é meditar na magnitude do trabalho e na responsabilidade dos obreiros divinos". Ousamos completar dizendo: os grandes líderes espirituais são repletos de compromissos, superatarefados ante os inúmeros convites para realizarem suas missões para o bem de todos e, muitas vezes, egoisticamente os seus seguidores tentam subtrai-los para si, por mero capricho, buscando aprisioná-los numa falsa proteção que, na verdade, pode até imobilizá-los e envaidecê-los. Não se mede a importância dos líderes religiosos pela quantidade de "discipulos" que os acompanham.

Certamente, esses líderes espirituais saberão se livrar dessas prisões afetivas que, infelizmente, são construídas pelos próprios seguidores ou correligionários, que, permanecendo tão fanatizados pela idéia de posse, acabam acreditando que os líderes espirituais famosos são suas propriedades, ou os seus 'pais' ou 'mães' idealizados. Este tipo de identificação é perigoso, uma vez que, cresce paradoxalmente no entre do SENTIMENTO DE AMOR-E-ÓDIO, tão conhecido na psicologia.

O bom missionário do bem sabe fazer as coisas na "medida do sal", como ensinou o Mestre Jesus. Ele se sente livre; não se vincula a quem quer que seja; não está preso a ninguém. Ainda assim, são amoráveis e sabem ouvir com atenção, no momento certo. É autêntico "cavaleiro da fé", conforme define Kierkegaard e segundo a história bíblica de Paulo. Este, como ninguém, soube separar o joio do trigo, em todos os momentos.
Diz Emmanuel que, para o mundo, Paulo era um prisioneiro, mas para a Espiritualidade Maior ele era livre.
Nesta reflexão, sabemos que a tentativa da ‘prisão afetiva’ não retém o missionário do bem a quem quer que seja. Quem acha que consegue prendê-lo para si, na sedução de suas cadeias afetivas, engana-se, portanto.

Os bons líderes espirituais diferenciam os seus seguidores, analisando o sentido espiritual de suas atitudes na Terra.
Os verdadeiros apóstolos da Caridade e da Perseverança, do Amor e da Abnegação, como Tereza D´Avila, Tereza de Calcutá, Divaldo Franco, Lelloup, Chico Xavier, Gandi, Joanna Angélica, Princesa Isabel, Chico Xavier, Emmanuel, Bezerra de Menezes etc, jamais incentivam bajulações ou estímulam a depedência afetiva de quem quer que seja.

Os que os seguem ou os perseguem, precisam meditar quanto à origem desse imperativo compulsivo e quanto ao modo incomodatício em que se empenham às vezes uma vida inteira para procurar aproximar-se dos famosos, seja pelo pensamento ou pela ação.

Se você é correligionários fique sempre atento na busca da compreensão de qual é o verdadeiro sentido que você empreende nesta busca, tão sôfrega, de proximidade.

Quais os sintomas? Sentiu-se obsessivo? Chegou a faltar ou atrasar seus compromissos particulares porque o líder espiritual está na sua cidade? caso as respostas sejam sim, você corre o perigo de ser "fogo amigo" do seu líder espiritual.
Pense: pelo quê você procura nesta aproximação tão íntima com os líderes espirituais?É gratidão por um bem recebido? É respeito? É vontade de ajudar? Então, converse com ele e abra seu coração. Ele saberá indicar o lugar que cabe a você procurar, com a humildade sincera e, de modo algum, a fingida que é formada de esteriótipos.

Pergunte também aos outros amigos... além de perguntar ao próprio líder espiritual: diga, sinceramente, por que você tanto gosta de estar perto. Mas, prepare-se para ouvir condignamente as respostas!

É preciso evitar a identificação com quem quer que seja, pois esta é que aprisiona o seguidor aos personagens representados pelos famosos.

Os líderes espirituais são homens e mulheres da Humanidade e é bom que sejam vistos assim, embora possam estar espiritualmente acima da média geral dos homens no mundo.

Se eles forem humildes, não se considerrão Avatares ou Missionários Espirituais. Eles sabem dos esforços que empreendem em educar suas emoções, e já compreenderam que não devem falhar.

Eles estão sempre atentos para manterem seus rumos, segundo a essência moral do Evangelho de Jesus.

Eles gostam de amigos leais e não de 'fogo-amigo', pois já bastam os inimigos da Causa do bem que, nos dois planos da Vida, atacam os redutos sagrados do bem.

Quando alguém não age assim e permanece ‘em cima’, atrapalha mais do que ajuda.

Cá para nós: os Missionários da luz, afinal, têm mais o que fazer do que ficar aturando as melifluidades do incauto que tenta se apegar ao âmbito do poder que, afinal, não lhe pertence.

Não digo que o correligionário deva estar sempre à distância. Deve ser mais cuidadoso na procura dos que se destacam no Espiritismo ou em qualquer outra função Missionária do bem. Fazer isto, torna-se um ato caridoso que torna leve a presença do amigo ao lado do Missionário da Caridade e do Amor.

E, não tenha dúvida: uma atitude assim faz bem aos ‘ídolos’, como faz muito bem aos ‘fãs’, embora, em termos de Espiritismo, o melhor seria que não existisse nem um nem outro, mas simplesmente irmãos.

Julio Cesar de Sá Roriz
jcesaroriz@gmail.com

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