terça-feira, 16 de julho de 2013

Divaldo conclama: despertemos!


Divaldo conclama:  Despertemos!
Julio Cesar de Sá Roriz

            Recentemente ocorreram manifestações populares nas ruas das principais capitais do país, em protesto quanto aos atos político-administrativos do Governo, principalmente em função dos excessivos gastos com estádios de futebol, em contraste com a precariedade nos hospitais, escolas e segurança, itens básicos, necessários às vidas de milhões de brasileiros.
Nós, espíritas, apoiamos tais manifestações, ordeiras e pacíficas, e não aceitamos as violências que são realizadas por aproveitadores mesquinhos, verdadeiros vândalos disfarçados de encontristas que intentam depredar o patrimônio público, em repugnante demonstração de estado de selvageria, incompatível com os avanços do século XXI.  
O tema das manifestações públicas é antigo e, ao mesmo tempo, muito atual. Os espíritas Freitas Nobre, Bezerra de Menezes, Deolindo Amorim, entre outros, souberam discutir as questões públicas, seja nos cargos públicos ou na imprensa. Deolindo afirmava: “divergir, sem dissentir!”. Os dois primeiros espíritas foram eleitos pela população e honraram seus mandatos com dignidade. O terceiro, foi homem de imprensa, orador espírita, sempre atuante na articulação de seu lúcido verbo para o povo. Freitas Nobre, marido de Marlene Nobre, muito lutou para erradicação, por exemplo, da fabricação ou importação dos brinquedos de guerra para crianças em todo o território nacional, mas ele não esteve sozinho na Câmara dos Deputados. Apoiado e inspirado pelo Espírito Bezerra de Menezes que, nos momentos mais graves, o orientava sempre através da pena mediúnica de Chico Xavier, principalmente nas situações dramáticas de enfrentamento da ditadura militar, como eficaz líder de oposição do antigo MDB, defendendo o país que atravessava o terrível  período de chumbo da ditadura politico-militar. Freitas, foi o político espírita, trabalhador de Casa Espírita, que soube tomar todos os cuidados para não se deixar envolver com as correntes vigorosíssimas da politicagem de então que podiam tragar políticos bem intencionados à desvios terríveis.
Mais recentemente, Divaldo Franco manifestou-se, como sempre, com sua virilidade inspirada e sua correta posição espírita, sobre assuntos referentes à política, de cujo desenvolvimento coletivo, fez e sempre fará parte da existência e do crescimento dos povos, em todos os tempos.
No dia 27 de junho de 1987, aconteceu um encontro doutrinário com as presenças de Divaldo Franco e José Raul Teixeira, na sede da Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro,em Niterói. Em meio às perguntas de ordem político-sociais vigentes, respondidas por um e pelo outro, notamos a atualidade das respostas de ambos, cujos conteúdos muito nos valem hoje. Tudo o que Divaldo disse naqueles momentos de grandes turbulências políticas, servem hoje, não só para os brasileiros, mas para todos os homens conscientes do planeta. 
As explosões populares que vemos acontecer nas ruas das capitais brasileiras, são produtos da insatisfação geral com os seus representantes políticos. Vendo meu filho de 17 anos, participante de Mocidade Espírita e partindo para a rua em protesto pacífico, deixou-me muito feliz. Lembrei quando Deolindo Amorim me convidou para falar sobre o espiritismo num grande encontro que ocorreu na Quinta da Boa Vista,no período da ditadura militar no Brasil.  Quando os EUA invadiram Trípoli, dando ensejo às especulações de que o Bush-pai estava desejando começar uma nova guerra mundial, os religiosos ligados à ONU promoveram encontros de paz nos continentes. No Rio, eram 4 mil pessoas desejando a paz do mundo. Eu estava lá à convite do meu amigo Deolindo Amorim, falando àquele povo, sobre a ótica positiva e consciente do espiritismo em momentos de crise mundial.
Divaldo afirmou naquela entrevista: “O espírita é um cidadão dinâmico e não um alienado. E, como cidadão, cooperará nas atividades que engrandeçam o mundo. Na política, deve atuar ativamente. É inútil e pernicioso nos queixarmos, se somos omissos”.
Ressaltando um aspecto relevante na conduta do espírita que milite no meio político, adverte: “não devemos, contudo, introduzir a politicagem do mundo na Casa Espírita”.
Assim, o mais corajoso conferencista espírita dos últimos tempos  respondeu, com serenidade, uma série de perguntas inerentes à política, como desde há muito não se via em nosso meio.
Sem descambar para o partidarismo, assim disse  aos espíritas de então: “o espírita deve participar de sindicatos, que (embora) passaram a ter (a) pecha de (alimentar) focos de rebeldia.
Sempre visando o equilíbrio, Divaldo discorreu seu verbo bem influenciado espiritualmente, evocando a lembrança das atuações políticas de Gandhi. “(Ele) dobrou o império britânico e liberou a Índia”. Ressaltou ainda o método pacífico e eficaz da resistência passiva. No fundo, Divaldo questionou, de modo inteligente, o covarde moral que em nada ajuda e ainda reclama de tudo.
Divaldo aconselhou ao espírita participação do movimento sadio, seja estudante, pai de família, industrial, pessoa comum: os que têm responsabilidade social.
“Através dos conhecimentos adquiridos na lida com a Doutrina Espírita – continuou Divaldo – o espírita comandará muito melhor os seus impulsos e saberá dirigir suas forças para bem prosperar na Terra”.
Citando a questão 919 de O Livro dos Espíritos, ele renovou o convite para o fortalecimento do cristianismo redivivo, a necessidade do Reino de Deus estabelecer-se na Terra, sempre no âmbito da paz.
Divaldo falou também em se evitar qualquer dicotomia entre o que se faz no Centro Espírita e na rua. E exemplificou:
No eventual piquete, utilizar-se de resistência passiva.
Se agredido ou mesmo apanhando, não agredir, não bater.
Relembrando os Direito Humanos, ele assinala a necessidade destes serem respeitados e consolidados.E, foi assim que, convicto, o tribuno baiano  expressou-se convidando-nos à ação somente através da não-violência, como verdadeiro primado da paz na Terra.
Ainda em resposta às perguntas, Divaldo estabeleceu uma análise crítica sobre o Brasil-Político daquela época difícil, em que estávamos todos envolvidos por insatisfações amordaçadas.
Como já disse, o que torna-se  impressionante na fala do Divaldo é a atualidade de suas informações. Praticamente, ele diz para não nos iludirmos, pois, segundo ele, tudo o que se vê, em termos de situação política, deve-se à nossa inoperância, negligência e omissão, enquanto cidadãos. Ele lembra que, no difícil período de exceção política, havia uma desculpa, pois acontecia uma imposição autoritária. Divaldo assinala que somos nós que elegemos os que estão aí e, por isso, também somos responsáveis. Alienação não resolve! E, neste tom de fala firme, ele nos remeteu o pensamento ao que Kardec assinalou: “não existe o mal... o mal é a ausência do bem” (ver Gênese de Allan kardec, capítulo III).
Vejam só este trecho da resposta de Divaldo: “...assumamos a  (nossa) culpa. Não fiquemos acusando o governo, seja esse ou aquele. Acusemo-nos. Eles não se elegeram por si próprios”.
Foi assim que o corajoso tribuno espírita, com sua sinceridade e virilidade ímpares, disse, claramente, que nós estamos pagando pela leviandade de escolhermos indivíduos para atender aos nossos caprichos e interesses, e não os do País.
Lembrou-nos ainda que os políticos eleitos também erram e que são caprichosos, mas, nem por isso, podemos dizer que são maus. Eles lutam por seus interesses e menos pelos interesses de um povo exaurido e cansado como o nosso.
Interessante notar a proximidade das eleições. Ele nos lembra que isso deve  servir de lição para não elegermos demagogos tradicionais, enriquecidos com o suor e o sacrifício do povo. Divaldo solicita diretamente aos espíritas que votem em homens nobres e dignos! Assinale-se, de passagem, que há em sua solicitação um sábio conselho aos que possuem vocação para exercer cargos eletivos: candidatem-se, se assim desejam fazer, mas para a defesa de ideais de dignificação humana!
Assinalando, à época, a grande presença de representantes protestantes na Câmara e no Senado, Divaldo nos perguntou:  se eles lutam contra o aborto, a pena de morte, o excesso de divórcios e defendem seus conceitos à luz da Bíblia... por que não temos uma voz sequer nas altas câmaras para lutar pelos ideais de enobrecimento e amor à vida, contra a pena de morte, o aborto, a eutanásia e tantos valores rebaixados pela “ética” enlouquecida.
Vibrantemente, Divaldo encerra sua longa resposta, conclamando-nos a todos: despertemos!...  "mas, não vamos tornar o espiritismo um partido político... a Casa Espírita em comitê eleitoral”...  "é lícito participar, mas, assumamos, igualmente, na vida pública, a conduta espírita para dignificarmos a política, (ou seja,) a ciência e a arte de bem governar, como dizia Platão”.

Fonte bibliográfica: "Elucidações Espíritas"
Autor: Divaldo Pereira Franco
Editora: SEJA, 2ª Edição, 1993,
Rio de Janeiro, RJ