O PROBLEMA DO ‘QUASE’ e o encontro semanal do "evangelho no lar".
Julio Cesar de Sá Roriz
Estamos juntos em quase todos os momentos de nosssa vida, pois somos pais e filhos. Até aí tudo bem, mas há ‘aspas’ no quase. Por que?
O quase já significa pouca coisa e, com ‘aspas’, o que significa? Seria porque este quase está associado com o tempo que permanecemos realmente juntos, enquando nos encontramos? Ou será referência a uma distância física enorme, daquelas que temos que vencer com sacrifício? Será que tem a ver com a frequência dos nossos encontros? É a intensidade, o interesse? O que é, afinal?
Se fôssemos máquinas, diríamos que o calor da aproximação é determinante deste ‘quase’. Sendo assim, o nosso tato seria nosso medidor do 'quase'. Se fôssemos animais, seria a nossa capacidade de sentir cheiro detectado pela nossa função olfativa.Fôssemos médiuns, seria um fenômeno especial, ao ser detectando uma aura diáfana, sentida de modo sutil.
O certo é que falamos desse ‘quase’ todo dia: dizer,‘a gente quase se encontra!’ é bem diferente de ‘a gente quase não se encontra!’. Na primeira frase parece que não houve o encontro; na segunda, houve um primeiro encontro e se deseja ter mais um.
Há, portanto, maneiras peculiares de pais e filhos se encontrarem: no jantar, no almoço, nas entradas e saídas do colégio do filho(a), nos pedidos de dinheiro... também nos momentos de briga, de desentendimento; quando a 'chapa está quente', nas polêmicas sobre o modo de fazer as coisas, sobre as opções diferentes de ser no mundo que os filhos querem impor e que os pais, por sua vez, tentam reprimir. Tudo isto reúne, num tipo de aproximação que faz o ambiente do encontro se transformar a residência em um verdeiro lar, mais do que um lugar onde pais e filhos moram e se esbarram todos os dias.
Há outros fatores de aproximação entre pais e filhos: a inesperada doença em ambas as partes. Enquanto se está doente, todos focam a atenção; vencida a doença, todos seguem para a lida, particularizando opções nem sempre partilhadas, conforme o corre-corre da luta pelo ‘pão nosso de cada dia’.
Há quem diga, cheio de certeza, mas com pesar: ‘não há mais tempo para um bom encontro entre pais e filhos!’. No entanto, – completam- ‘ a internet nos re-liga...’. Mas, se nem isto ocorrer, as semanas vão passar, sem que se encontrem, sem que se vejam, sem se falarem... E se deixarem a vida ir levando, os anos vão se arrastando assim... Um dia, encontram-se casualmente nos enterros quando se sentem obrigados a se retirarem do contato com os vivos de suas vidas para dedicarem um minuto de atenção aos que morreram de suas existências duras e frias. Os pais e os filhos se acostumam com as coisas que vão ocorrendo e, então, se estão vivendo muito separados, permanecem cada vez mais sós... e cada um vai ficando na sua. Aparece uma solidão!!!... uma ponta de saudade!!!... E os argumentos são aqueles de sempre: 'estamos tão ocupados', 'preocupados', 'aflitos','sobrecarregados'... 'distantes'.
Quem não faz nada na vida e tem que se encontrar com outrem, reclama porque sente o peso de ter que sair da inércia. Não é coisa fácil! Falo do ‘movimento de inércia’,que a Física e a Geometria explicam como sendo aquele movimento que a gente se acostuma ir numa só direção, quando está demasiadamente só, numa só direção, no modo de ser no mundo. O interessante disto está mesmo naquele pai, naquela mãe, naquele jovem filho, naquela filha: os que estão sempre fazendo muita coisa. Veja se não é assim: quando estes fazem opção de se encontrarem significa que, na verdade, abriram um precedente de tão-só 2%, 3%, 5% de seu tempo útil para encontrar o papai, a mamãe, o filho ou a filha. Há, no entanto, o outro tipo: aquele que não faz praticamente nada o dia todo, e que não tem tempo para disponibilizar-se para este encontro. Isto é: tempo eles têm, mas isto pesa, pois para quem não faz 100% nada, significa muito dispor-se a algo que significa praticamente 100% do seu tempo livre para fazer alguma pequena coisa por alguém, como ir ao cinema com o filho, ver o show de rock com a filha.
Quem não é Espírita, talvez não vá se interessar por um tipo de encontro espiritual muito especial entre pais e filhos. Pode experimentar ir à Igreja. Tudo isto é válido: futebol, passear etc porque precisam experimentar como é bom realizar um encontro sincero. Quem é espírita sabe: há uma forte distinção, quando o encontro pais e filhos deve ocorrrer e ambos, se são espiritas, têm consciência de que é bom manter o diálogo semanal com os membros da parentela corporal.
Quem não é espírita poderá dizer: é um encontro especial que acaba quebrando o ‘quase’, no hábito semanal do encontro da família, hábito já adquirido que favorece o encontro no lar entre os espíritas. É um hábito salutar, mas se não tomar cuidado pode se transformar em tormento, do tipo 'mensagem carapuça' imposta sobre os jovens filhos. É um engano pensar que o Evangelho no lar é o local do acerto de contas dos membros da família. Espera-se que o Encontro do Evangelho do lar seja continuidade dos encontros que já ocorrem na família, entre pais e filhos. Torna-se assim um evento na família com uma periodicidade semanal que não cansa, porque já estão com o hábito na ‘veia’,como almoçar, como ir para a escola e como trabalhar pelo ganha-pão. Isto que aqui focalizamos evidencia a necessidade da constituição de um espaço de convivência, que não está só na dimensão das medidas físicas, mas principalmente na da afetividade, tornando-se um preventivo do 'quase' epidêmico.
Estamos aqui falando sobre o Encontro Semanal de Pais e filhos que denominamos tradicionalmente no espiritismo de ‘Evangelho no Lar’. É reunião de família, natural entre pessoas da família e que são diferentes. Todos procuram se aproximar no âmbito do Evangelho de Jesus, cuja égide traz luz ao ambiente familiar, proteção espiritual. É algo muito simples e direto, bom de fazer porque é destituído de liturgias, pois o que torna 'sagrado' o encontra da família é o desvelamento verbal seguro dos conceitos doutrinários que Allan Kardec proporciona em suas Obras básicas.O Evangelho no lar não precisa de rotinas mas sim de disciplina; é preciso ser feito com mais amor mas sem pieguice; ação dinãmica de grupo muito simples porque afinal de contas é um encontro de espíritas que gostam de conversar sobre o espiritismo em suas vidas relacionais. Proveitoso e eficaz porque vai além da parentela corporal.
É assim que o espaço psíquico entre os pais e os filhos não oferece campo para o ‘quase’, porque fica implícita uma tradição raciocinada no reencontro entre pessoas que se amam, desejosas de conversar e trocar opiniões sobre o porvir de suas próprias vidas na Terra. Mas não é só a família que se beneficia no Evangelho do Lar: os amigos de meus filhos, os amigos de ideal e os parentes: todo que solicitam participar de vez em quando, em hora certa, do dia certo, sem falta. Eles sabem que não há ‘quase’ quando convidamos Jesus para partilhar a nossa companhia no lar. Na nossa casa, os amigos dos meus filhos dizem para eles que acham estranho e ao mesmo tempo 'incrível' verem adultos e jovens conversando sem brigar. ‘Incrível' dizem os que já assistiram - porque os adultos deixam a gente falar...'; 'eles escutam a gente!’. Outro jovem amigo do meu filho disse: ‘minha opinião foi escutada e discutida e eu nem sou espírita como eles’.
Vimos que, assim, dá-se oportunidade de ultrapassar o ‘quase’, através de encontros entre pais e filhos, dentro de um lar espírita. É tão fácil: abre-se uma página do Evangelho S. Espiritismo ou O Livro dos Espíritos, podendo-se associar ao texto da Obra Básica, uma página de Emmanuel, Andre Luiz, psicografados por Chico Xavier ou de Joanna de Angelis, psicografada por Divaldo Franco e pronto! Há uma prece no início e outro ao final. Mas, o interessante não é fazer esta programação ser cumprida à risco, pois há coisas mais importantes: o ambiente, a abertura psíquica para o bom encontro, cuidado com a manutenção do bom ambiente monitorando a TV e o computador.
Quando o Encontro do evangelho do lar ocorre em clima de alegria cristã, sente-se claramente a presença dos espíritos amigos, ajudando-nos neste esforço coletivo. Como eles têm muito o que fazer, se nós ficarmos no ‘quase’ não os teremos, de fato, junto de nós!
Eis aí um modo simples e direto de eliminar o ‘quase’ dos encontros familiares, conforme citado acima. Para não dizer que não tem quase no “Evangelho do Lar”, este encontro é quase uma obrigação entre os espíritas de uma mesma família. É claro que os primos, amigos dos amigos, colegas dos filhos podem e devem frequentar o “Evangelho do Lar”, pois, em alguns casos, até ajudam na dinâmica do grupo. Desde que os que não são da família consanguínia, ou que não são moradores daquele lar, não sejam pessoas inadequadas, perturbadas ou conturbadoras do ambiente, pois atrapalham muito o andamento se abrem discussões na reunião de Evangelho do Lar.
A Doutrina Espírita faz, assim, o verdadeiro traço de união da família e desconstitui o ‘quase’ que sempre ocorre nos encontros das pessoas de uma mesma família, principalmente, quando esta está sobrecarregada de problemas. Entre estes, há a conhecida ‘falta de tempo’ ou os constantes ‘compromissos inadiáveis’. Estes, realmente, são os principais autores do “quase não nos encontramos”.
O que faz sentido para uma família espírita se reunir, uma vez por semana, em torno do Evangelho Segundo o Espiritismo ou O Livro dos Espíritios é a Luz bendita que se faz na residência. Há também o esclarecimento cristão que ilumina as consciências dos moradores, abrindo-lhes o horizonte das possibilidades de se tornarem homens e mulheres de bem na Terra.
Assim fazendo, os espíritas, ajudam a própria Humanidade a se livrar do ‘quase’, porque num sentido geral, quando a família ora em conjunto, o quarteirão se acende em ignições que prenunciam Regeneração. É isto que aproxima os povos e ajuda a Humanidade a levar o planeta a um novo estágio evolutivo.
O ESPÍRITA CRISTÃO, VERDADEIRAMENTE ESPÍRITA, FAZ O EVANGELHO DO LAR COM SUA FAMÍLIA, TODA SEMANA.
Porque espírita não é ‘quase-espírita’, porque também não está na proximaidade do ‘quase-encontro’ com os seus entes queridos. Porque não é um ‘quase-homem’ ou uma ‘quase-mulher’ no mundo de expiações e provas.
Assim, a relação entre Pais e Filhos é inteira. Isto não acontece por acaso: é preciso cuidado e manutenção. O espírita precisa ser autêntica e, naturalmente, leal. Isto se, e somente se, estiver estribada na sinceridade de propósitos quanto à felicidade dos familiares. Se há realmente o desejo de ser constituída uma colaboração espontânea, uns com os outros, na experiência da evolução. Isto elimina, por inteiro, as divergências do passados, abrindo aos familiares, um horizonte mais produtivo e feliz, não só para esta vida, como também para as próximas reencarnações dos que estão envolvidos no âmbito da parentela corporal.
Então, se você é espírita, tire o ‘quase’ de sua vida: faça o “Evangelho do Lar” acontecer. Faça sua parte!